de volta à nave mãe: home
Home Home by Ivana Ebel Facebook Twitter E-Mail

menu

Estudar fora Sobre a Alemanha Viagens & turismo
Nonsense Receitas Jornalismo

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Bremen, o cenário medieval dos saltimbancos

Eu sempre gostei de escrever: quando era menininha ainda, ficava feliz quando a professora anunciava que era dia de aula de redação e no fim das contas, acabei virando jornalista. Comecei a trabalhar como repórter muito cedo, mesmo antes de entrar na universidade e nunca parei. Já fiz jornal, revista, capítulo de livro, rádio, TV, internet, assessoria... e agora mestrado. Mas no fundo, o denominador comum de tudo isso é a certeza profunda de que eu não poderia ter escolhido outra profissão. Sou jornalista desde que nasci, eu acho, e não me imagino sendo outra coisa nesta vida!

O fato é que com o mestrado – e essa fase maluca de tese – eu ando longe da profissão. Sigo escrevendo (faço traduções de alemão para português no site da FIFA.com), mas não é a mesma coisa. Não é um compromisso diário com o fechamento da página. Não há o processo de apuração, de “parir” a matéria. Com isso, volta e meia eu sinto uma saudade danada dos tempos de redação e acabo escrevendo mesmo sem ter pra quem. Foi um texto desses que acabei mandando pro Diário Catarinense, lá de Florianópolis, com umas fotos que fiz aqui em Bremen.

Hoje minha matéria saiu em três jornais do grupo RBS. As páginas ficaram lindas, bem diagramadas, cheias de fotos. Adorei. Gostei tanto que resolvi mostrar aqui, pra quem não viu nos jornais e nem pela internet. O texto saiu um pouco cortadinho – eu escrevi demais! – e passou por uns ajustes para se adequar a página. Então vou colocar aqui o conteúdo original.

O material foi publicado assim (depois do nome do jornal coloquei o link para a versão que saiu no site de cada um):

A Notícia (aqui)



Diário Catarinense (aqui)



Jornal de Santa Catarina (aqui)



BREMEN - ALEMANHA

O cenário medieval dos saltimbancos

Era uma vez um burro, um cachorro, um gato e um galo que, velhos demais para ajudarem seus donos nas fazendas onde viviam, fugiram rumo à cidade em busca de uma vida nova e livre, onde ganhariam dinheiro como músicos. Eles nunca chegaram ao seu destino, mas a cidade em questão, Bremen, no Norte da Alemanha, adotou os personagens criados pelos irmãos Grimm em 1857 como seu símbolo e até hoje se orgulha de ser uma Freistadt, uma cidade livre. Uma estátua dos “Músicos de Bremen” foi erguida em 1951 e não se pode deixar a cidade sem pegar nas patas do burro para garantir sorte. No Brasil, o conto ficou famoso com uma versão adaptada por Chico Buarque, em 1977, conhecida como Saltimbancos.


Com um acentuado aspecto medieval, Bremen fica a cerca de uma hora de trem a sudoeste de Hamburgo, segunda maior cidade da Alemanha. Com aproximadamente 550 mil habitantes e embora tenha status de Estado independente – junto com o porto de Bremerhaven -, as principais atrações históricas estão concentradas na cidade velha (Altestadt) e a visita pode ser feita a pé. Por entre as ruas cortadas pelos modernos metrôs de superfície, que dividem espaço com os pedestres de forma harmoniosa, a cidade mantém bem conservadas as suas fachadas medievais. Passear pela Marktplatz é viajar a um passado que lembra os tempos de Carlos Magno.


A história não-oficial conta que Roland, sobrinho do líder máximo do Sacro Império Romano, defendeu a Europa cristã da invasão islâmica por volta do ano 800. O fato é que sua figura – com escudo e espada – tornou-se um popular símbolo de liberdade durante a idade média e o maior Roland do mundo fica em Bremen. Os moradores da cidade acreditam que, enquanto a estátua de quase seis metros estiver de pé, Bremen será um estado livre. A fama do general é tanta que uma lenda urbana nasceu: a de que haveria uma réplica de Roland no porão da prefeitura para substituir o original, caso fosse destruído, e assim manter Bremen livre.


Apesar de não passar de uma história contada de boca em boca, vale a pena conferir os porões da prefeitura. O prédio de 600 anos foi tomado pela Unesco como patrimônio mundial da humanidade e tem, em seu subterrâneo, uma antiga taberna que, na primeira década de 1600, era o único lugar da cidade autorizado a vender bebidas alcoólicas.


A cidade é repleta de histórias e marcos pitorescos. Da prefeitura, é possível avistar a imponente catedral de St. Petri, que começou a ser erguida no ano de 791. Finalizada quase mil anos depois, exibe uma abóboda rendilhada, típica da arquitetura gótica. Para quem tiver disposição, é possível subir as escadarias e apreciar a vista de toda a cidade e vizinhanças – a região é bastante plana – do alto de uma das torres de 68 metros. Para não fugir à regra, o Dom, como é chamada a igreja, também tem seus segredos. Um artesão esculpiu, em uma das abóbodas do altar, um ratinho, e o desafio é que os visitantes encontrem o insólito ornamento entre as curvas cuidadosas da decoração.


Pelo lado de fora, nos fundos da própria igreja, fica a grande praça dos bancos, onde é comum ver, até mesmo sérios e engravatados cidadãos, cuspindo no chão. Não se trata de falta de educação, mas de um antigo marco. A Spuckstein, ou pedra-de-cuspir, marca o lugar onde foi feita a última execução pública da cidade, em 1831. Deixar uma marca por lá, significa demonstrar repúdio pela assassina confessa de mais de 13 pessoas que perdeu sua cabeça na guilhotina.

Nos arredores da praça principal, há ainda dois pontos de grande interesse: a Böttcherstrasse e o bairro Schnoor. O primeiro é uma rua de cerca de 100 metros que costumava ser a principal ligação entre a praça e o rio Weser, rota de comércio da Liga Hanseática. Já na entrada, um painel em relevo recoberto de ouro – presente oferecido por Bremen como homenagem, mas negado por Hitler que considerou a obra “imoral” – fica a Lichtbringer, a carregadora da luz. A obra mostra o início de um caminho estreito tomado por casas de arquitetura ímpar e curiosa que merecem visita. Não se pode perder também o espetáculo da Haus des Glockenspiels, a casa dos sinos, que todos os dias às 12h, 15h e 18h, abre suas paredes, literalmente, para exibir imagens e homenagear os grandes navegadores com composições tocas em seus sinos.


Já o Schnoor, é o mais antigo vilarejo da cidade, ainda preservado em sua arquitetura original. Antiga vila dos pescadores que ganhavam a vida às margens do rio Weser, tem ruas estreitas – algumas com não mais do que 60 centímetros de largura – que reúnem casas originais dos séculos 15 e 16. Por lá também está o hotel que, por muitos anos, manteve o título de ser o menor do mundo. A mesma construção já abrigou, em outros tempos, a casa de casamentos – Hochzeithaus –, onde donzelas fugidas se casavam com seus amores sem precisar apresentar qualquer tipo de documento. Hoje em dia, as construções que escaparam ilesas à Segunda Guerra, tornaram-se ponto preferencial para restaurantes, bares e cafés. Permeado de lojinhas de artesanatos, souvenirs, galerias e teatros, o Schnoor é um dos poucos pontos da cidade em que a movimentação não pára, dia e noite, mesmo aos domingos (quando tudo fecha na Alemanha) e feriados.


A vida noturna de Bremen tem dois cenários distintos: à beira do rio Weser, para os happy hours e o belo por do sol na região chamada de Schlachte, e no bairro Viertel, onde jovens caminham por entre bares e casas noturnas. Cidade universitária e multicultural, Bremen atrai estudantes e visitantes de todo o mundo, mas também é comum conferir alemães de muitos sotaques tirando fotos juntos à estátua dos músicos e outros monumentos. Organizada, como a maioria das cidades alemãs, Bremen conta com um sistema de transporte público eficaz para quem quiser explorar os parques e museus em seus arredores.


Para quem gosta de cerveja, vale anotar uma informação importante antes de marcar viagem para Bremen. É na cidade que se fabrica a Becks, mundialmente conhecida e, aos sábados pela manhã, são organizados passeios guiados pela fábrica (em alemão ou inglês, dependendo da demanda). Além disso, não deixe de conferir a agenda de jogos do Werder Bremen, orgulho dos cidadãos locais, por onde sempre desfilam craques dos campos brasileiros. Durante a semana, após os treinos, a torcida tem acesso aos jogadores e os representantes do Brasil sempre ficam felizes em ouvir um cumprimento em português quando estão morando tão longe de casa.

Ai vão mais algumas fotos, pra quem quiser ver mais de pertinho:









3 comentários:

MEUS DIAS DE CHUVA disse...

Uaaauuu...Amei..não tinha lido nem visto no Jornal...vou voltar a ler hoje a noite mesmo, com toda a merecida calma...mas queria te dizer que sinto orgulho de vc, e principalmente meu coração bate feliz pelo que sei que sua mami sente por vcs, o orgulho e felicidade dela ver vc assim tão perto e ao mesmo tempo tão longe!!!
Bjs

Mila =] disse...

Ivana, confesso que virei uma leitora fiel do seu blog. Já faz alguns anos que virei mais uma apaixonada pela cultura alema, mesmo nunca ter ido pra Alemanha. Meu namorado, que mora em Bremen, foi o grande culpado por isso... e desde entao ando pesquisando e buscando conhecer mais e mais Bremen... Estou pensando em estudar em alguma uni na alemanha (graduacao) particularmente em bremen, e pelas minhas pesquisas, nao tem studienkolleg la... E agora, como faco ou quais sao as minhas possibilidades?

Ricardo Becker Maçaneiro disse...

Este blog é fantástico! Adoro ler os posts/matérias. Essa matéria sobre Bremen é uma das que mais gostei, pois, tenho muita vontade de conhecer Bremen.

de volta à nave mãe - desde 2008 © Ivana Ebel